terça-feira, 24 de agosto de 2010

QUANDO OUÇO MEU RÁDIO, LEMBRO-ME DE ALGUMA COISA A FAZER, ESTANDO NAS PROXIMIDADES DA ESTAÇÃO DE METRÔ. É TUDO UMA SÓ VIA.
OS LIVROS QUE LEIO CABEM NUMA CITAÇÃO DE CORPO INTEIRO, SEM DIFERENÇA ENTRE O INICIAL DOMINGO E O MEIO DA QUINTA - ENTRE UM BAIRRO PONTUADO POR PARADAS DE TRANSPORTE E AS FIGURAS QUE SÓ SAEM À NOITE EM RESPOSTA AO QUE PENSO QUE APENAS EU VEJO.
NÃO ME DESCOLO DO FILME 'A MULHER CANHOTA', DIRIGIDA PELO PRÓPRIO AUTOR DO LIVRO (HANDKE). O ESTRONDO DO COTIDIANO POR UMA VIA SUTIL. COMENTO ENTRE UM INTERVALO E OUTRO DA TESE NO MESMO MINUTO QUE MINHA IRMÃ POR TELEFONE A COBRAR VINDO DO RIO DIZ SOBRE A SÚBITA INTERNAÇÃO DE MEU PAI, QUE MORA NO RECIFE.
MEIO DO TEMPO: BEMBE ACABA DE RECEBER MENSAGEM ESCRITA DO NOSSO FILHO (DELA, BIOLÓGICO, MEU, ADOTIVO QUERIDO SEMPRE PRESENTE NO LUGAR DAQUELA CRIANÇA QUE PERDEMOS NO FIM DOS ANOS 1980 DEPOIS DA FOLIA DO ROCK IN RIO. DEPOIS DA LAMA PÓS WOODSTOCK/UDIGRUDE NUM REVIVAL DE FIM DA JUVENTUDE. AMOR SOBRE A MESA. B 52'S ESTÃO NA VIZINHANÇA).

- Pois é, meu pai, digo para Brigida a relatar o mal-estar no fígado e um lastro cancerígeno. Pois é, saio sem ouvir música, nem Animal, nem rastro de tese. Um senhor velho, como aqueles escriturários-mapeadores de Handke, cochila sobre seu escrito num dos vagões do metrô. Ele carrega lápis de cor e dorme sobre sua anotação.
Durmo pouco. As pessoas vistas na Avenida full time forum dos temas urgentes não me deixam. Minha conversa com o conhecido da aula de ginástica me leva de um ponto a outro do tempo como num exercício estritamente físico.
Na hora do café, Bembe se confessa, também, num sono entrecortado ao longo do sábado vivido no contraste entre nosso cansaço e o que se passe. Em volta. Entre pessoas e o som que chega download. Vamos cortando nossos pães e falando da arquitetura do blog que ela produz: uma forma de montar uma função visível no mercado. Consultoria. Assessoria de design e modos de vida urgentes (tendo por eixo comunidades e tecnologias em autonomia).
Emendo com tudo o que sinto sobre o disco hipercomentado do Animal. É impactante ouvir "My Girls" na Avenida Paulista assim que o crepúsculo se funde com a iluminação de ponta a ponta tocada pelas pessoas que começam a sair de casa em busca daquele recanto: o ponto-de-escuta da música e de passagem infinda de criaturas que esperam por outras ou por ninguém, tão-só o mesmo ar que respiro, denso compacto desvirtuado por timbres não revelados de som. Ou tudo o que faz vibrar as silhuetas I-Pod (Eu Pódium) e o mistério das músicas que as seguem.
Vou me concentrar nesses pontos - centrado na tese que faço sobre música, cidade, transnacionalidade, cultura tecnoportátil. Tomado, por outro lado, pelo coração necessitado de respiro, caminhada forçosa, abismada em multidão (dentro ou fora de casa, em volta ou no voo do som).

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Entro em casa mais tarde do que supunha. Minha caminhada deu em contemplação dos habitantes que passam em festival e conversa desatada. Bembe me pergunta onde estive e acabo relatando um pouco do que ocorreu na Avenida com a sensação vertiginosa de estar contando exatamente. Vou deixando as compras sobre o móvel da cozinha. Nosso whippet quer me derrubar à procura de vestígios comestíveis, quando tudo parece ser recente, com a contraface da rua. Depois de horas, fico sem saber onde deixei meu rádio-porta-passagem (como chama o aparelho I-Pod tão evidente para quem não pára em casa). Só quase na hora do dia terminar, me dou conta que guardei o aparelho dentro de um livro que sempre carrego como contrapeso a possíveis interrupções de som e pensamento. Há um ruído estrobo em volta no momento em que vou dormir. É o vizinho, ligado em som como eu, que está começando uma festa urgente, no fim-de-semana, no fio de tudo que sou, vivo e acabo, em conjunto, sentindo.