quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Tenho uma noite diferente de todas. É o que sempre acontece. No caos sem nome, sem notícia nem remissor.
Mas acontece que essa atravessou um acontecimento. Em volta de quem não vi o rosto ao final. O pai. Em supressão definitiva da origem. Morte no paralelo. Filho incomunicável, tardiamente telefonado pela madrasta ao Nordeste.
Depois de Brígida (irmã) ter comentado a morte sem chance de tempo de tomar um avião até Pernambuco. Tudo no último minuto, como a confirmação de que depois do fim da família pai não poderia mais reatar outro vínculo. Principalmente, depois, no momento controverso em que não mais estava com ele. Dentro do metrô, nada sabia, de que não veria mais seu rosto - enquanto seguia as estações no embalo da música I-Pod imediatamente transmitida no momento de sua exibição pública.

domingo, 26 de setembro de 2010

Vem uma pergunta precipitada, com um corpo quase, desatrelado de mim e do que está cercando (Bembe não está em casa, nesse início de noite). Recaio em minha história reescrita de repente com a morte de pai. No Recife. Por um súbito lastro de doença. A pergunta vem como sorteio ou dimensão do fundo do cotidiano. Uma teledramaturgia totêmica, estilhaçada - Minha história entre tese, cuidado com a saúde e o toque da música (caminhada, terapia, mapa). Plano de produção novelesca noite a noite: Um foco de economia. Um crime de empresa. Uma filiação oculta a ser revelada. Sob a exposição e a supressão do desejo em meio a beijos e escalamentos de atores em fila no teatro do mundo.

sábado, 25 de setembro de 2010

Quando retorno para casa, a ligação do Rio volta - a cobrar - para dizer em pranto seco, pela boca de minha única irmã: papai morreu há menos de uma hora. Estou acoplado ao I-Podium. A música do Pavilhão (Animal) ainda toca e então verifico que é hora. Há horas, não tenho o rosto mais nítido de meu pai, vermelho e repositivo das palavras vibrantes pelo ar. Gostava ele de dizer e fazer um batuque na mesa ou na parede como um acompanhamento. Existem refrões que só são dele - "isso é bom pra tosse" (...) "é brincadeira, rapaz". Não sei porque não choro, estrangeiro, exilado do corpo dele. Fico só ligado nas adjacências e não cai nada de mim em torno do seu rastro. Dele, um pai. Mais nada, senão o meu olhar vigilante sobre vazio e uma espécie de sintonia espalhada pelo ar, por tudo que é respiro.