sábado, 20 de novembro de 2010

Entro, depois de um mês da morte paterna, no recinto estrito: a sala de evocações dos Meditadores Urbanos. Trata-se de um rito entre o falado e o imediatamente cantado, sob a pauta de uma cifra poética em ocorrência nos planos superiores, invisíveis, pontilhados por trilhas de neve e explosões de safira a cada silabar. Mântrico e reservado, o rosto de pai se forma por força da poesia tão renegada por ele em meu caminho. Então, consigo derramar uma espécie de lágrima e purgação pela palavra. Pelos riachos estriados pelas emanações búdicas, o
pai parece retomar sua viagem após o táxi, transporte pelo qual nos deu guarida e sobrevivência. Apenas um nome e seu nome será salvo. Táxi, táxi. Já na morte - não corra tanto papi (diz o aviso perpendicular ao volante com os retratinhos de suas crianças, ex-voto taxímetro, eu e Brígida, a família nuclear composta a cada rodada). Agora os reis azuis do gelo mais escarpado grita em seu nome e repetimos bodisawtha, body and sad tattoo (pai tardio sem rosto agora escalado na montanha mais alta). O canto não pára (é um coletivo ao avesso do ambulante-automático percurso pelas ruas desbravadas pelo I-Pod). Não pára por obra de um címbalo dévico-devoto ao respirar e à instintiva jornada de um indíviduo, ex-filho do todo, do corpo tomado pelo indício não-morto do nome do pai já longe daqui, mais e mais leve, tornado empresa da voz exterior do mantra e logo do silêncio. Levitado, enfim cumprido para história da pessoa que prossegue, desgarrada da filiação, em mei a um coletivo de novos budas e parentes de muitos outros mortos.

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